Produzir e consumir alimentos orgânicos é um movimento que precisa estar ancorado em sistema produtivos e de distribuição sustentáveis do ponto de vista econômico, social e ambiental
Cassiano Facchinetti, diretor da Koelnmesse Brasil
A produção de alimentos orgânicos no Brasil começou no final do século passado embalada pela paixão de alguns produtores rurais que apostaram na agricultura sem uso de produtos químicos como forma de melhorar a qualidade e garantir a sustentabilidade nas lavouras. Aos poucos, o sistema foi ganhando adeptos e hoje já apresenta um crescimento de 20% ao ano, segundo Cobi Cruz, diretor de Branding do Organis (Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável).
Mas o grande desafio da produção orgânica é ganhar escala para atender aos crescentes mercados interno e externo, além de desenvolver uma logística de transporte e armazenagem. E por ter grande importância no mercado mundial, o segmento terá espaço especial de exposição e debate durante a ANUFOOD Brazil -Feira de alimentos e bebidas, que acontece de 12 a 14 de março do próximo ano, em São Paulo.
Produzir orgânicos em grande escala é apenas um dos desafios a serem enfrentados pelo setor. Como não é possível transportar alimentos orgânicos junto com aqueles com produção tradicional, é preciso desenvolver uma logística própria. Por isso, os preços ao consumidor acabam sendo maiores e a melhor opção para os produtores são as feiras específicas que existem em várias partes do país.
Como o próprio diretor do Organis afirma, a realização da ANUFOOD, que traz para o Brasil a expertise da Anuga, maior feira mundial de alimentos, realizada a cada dois anos em Colônia, na Alemanha, é importante para abrir espaços para os orgânicos. Atualmente,o país tem 16 mil unidades produtoras de orgânicos cadastrados no Ministério da Agricultura, a maioria pequenos produtores e agricultores familiares.
E com o aumento da preocupação das pessoas com a saúde e a alimentação surge uma oportunidade para o segmento. Mas também existe a falta de incentivo e de investimento em infraestrutura. A maior parte dos produtos são de hortaliças. Nem mesmo frutas têm uma escala considerável. De acordo com a Organis, hoje existe algo de uva, mas o restante ainda é pouco, pois os pequenos agricultores precisam pensar no tempo para colher e as frutas exigem três anos para poderem oferecer uma produção adequada. Já as verduras levam apenas alguns meses para ser colhidas.
Um dos gargalos para o crescimento dos orgânicos é a assistência técnica. A Embrapa possui equipes competentes que relizam pesquisas importantes para o desenvolvimento de técnicas para a produção orgânica.
Além do crescimento, os produtos orgânicos também têm ganhado maior qualidade nos últimos anos. Há dez anos, o consumidor encontrava alimentos de menor qualidade se comparados com os tradicionais. Tanto que havia o questionamento no porque alguém compraria algo com aspectos inferior e por preço maior.
Um situação que mudou. Hoje praticamente não há diferença de aparência entre os orgânicos e os alimentos produzidos de forma tradicional. Tanto que 50% do que é produzido no Brasil vai para o exterior, onde as exigências dos consumidores são ainda maiores. Mas a exportação causa outro problema para o atendimento da maior demanda no país. Nossa produção não acompanha o crescimento da procura. E ainda mandamos para fora grande parte dos produtos. Precisamos de um equilíbrio no mercado para garantir o crescimento do consumo de orgânicos no país.
O manejo na agricultura orgânica valoriza o uso eficiente dos recursos naturais não renováveis, bem como o aproveitamento dos recursos naturais renováveis e dos processos biológicos alinhados à biodiversidade, ao meio ambiente, ao desenvolvimento econômico e à qualidade de vida humana.
Esta prática agrícola preocupa-se com a saúde dos seres humanos, dos animais, das plantas e do solo, tendo como modelo de produção a adoção de técnicas integradoras pouco agressivas ao meio ambiente e a aposta na diversidade de culturas.
O registro formal dos produtos para a comercialização além das fronteiras do município, estado ou país, é fundamental diante das exigências legais e da clientela.
Além do registro básico, a obtenção de selos e certificações de qualidade, denominação de origem e de alimento orgânico garantem acesso a determinados nichos de mercado dispostos a pagar mais pela garantia de qualidade e procedência.
Os procedimentos de certificação, apesar de importantes e benéficos aos consumidores, por vezes, dificultavam a comercialização dos produtos orgânicos pelos pequenos produtores.
Portanto, o setor precisa ganhar escala. Mas para isso é preciso maior apoio ao produtor rural para que tenha segurança em apostar em uma mudança que envolve, inclusive, a cultura agrícola nacional, além de necessitar de investimentos também da porteira para fora.